Virando a própria mesa
Publicado no instagram em 05-05-2020
Eu tive uma diversificada trajetória profissional, e já trabalhei com os mais diferentes assuntos: varejo, crédito, comércio internacional, governo, gestão pela qualidade, dentre outros. Uma carreira, sem dúvida, dinâmica, concluída após mais de 30 anos de forma que considero bem sucedida, embora sem grandes projeções (cheguei ao máximo a uma gerência média). O aprendizado nem sempre vem do sucesso, não é mesmo? Eu realmente aprendi muita coisa! Até porque o conhecimento sempre foi a minha âncora, o que eu valorizava acima de qualquer outra qualidade (disciplina, rede de relacionamentos etc.). Não estou aqui defendendo isso, mas era assim: eu via até como uma espécie de desonestidade alguém ocupar um cargo para o qual não tivesse o conhecimento necessário. Ironicamente, estive muitas vezes insatisfeita por não conseguir fazer valer o meu conhecimento em ocasiões em que, mesmo estando preparada para determinadas oportunidades, fui preterida por passar uma imagem distorcida de que não estava, resultado de uma postura errada, de problemas de network ou, simplesmente, por medo de me defender em determinadas situações. Passei algumas vezes por coisas assim e cheguei a achar que havia desperdiçado meu tempo estudando e trabalhando em coisas que me deram muitos conhecimentos, mas que somente promoviam outros. Me sentia injustiçada! Enfim, enquanto não aprendemos pagamos o preço, não é mesmo?!
Certa vez, enquanto eu reclamava para um ex-chefe meu, uma pessoa muito especial com quem tive a oportunidade de trabalhar e que considero ter sido mesmo meu primeiro “guru”, ele disse: Mári, nenhum conhecimento é perdido! Continue investindo em obter conhecimentos e em algum momento eles lhe serão úteis!
Pois bem, me lembrei disso ontem quando vi um vídeo sobre liderança e, então, recordei um livro indicado por um professor meu da época da faculdade: “Virando a própria Mesa”, um best-seller de Ricardo Semler. Semler é um dos grandes nomes da administração brasileira e mundial, considerado um reengenheiro da administração, por sua atitude extremamente inovadora na gestão da empresa que familiar que herdou (à época praticamente falida), mudando completamente o seu rumo com uma gestão moderna, baseada na postura crítica em relação ao próprio modelo hierárquico existente, e adoção de métodos bem mais participativos, justos e inclusivos. Ele também estudou em Harvard, escola que só o aceitou após ele ter escrito uma carta criticando a Instituição. Ou seja, realmente um revolucionário!
Bom, isso foi há muito tempo e o assunto não é mais exatamente uma novidade. Percebo, porém, que ainda estamos muito aquém do que se poderia ter evoluído nele, e que o modelo implementado por Semler é ainda, em essência, inovador.
É claro, o ser humano tem a tendência de desistir de tudo o que dá trabalho, e uma participação efetiva das pessoas na gestão de empresas, outras sociedades, grupos, e até governos dá muito trabalho! Exige coordenação, e uma coordenação objetiva e comprometida, sob o risco de tornar tudo muito prolixo ou pouco efetivo. Um outro ponto que vejo é que a participação é vista pela maioria das pessoas de forma distorcida, como sendo um instrumento apenas de direito (de ser ouvido, comunicado, considerado etc.), quando na verdade é bem diferente disso! Numa gestão realmente participativa, as pessoas também são co-responsáveis pelos resultados da entidade e encontram, juntas, a forma de melhorá-los. É o “pensar com a cabeça do dono” (e, de fato, tornar-se também dono, já que os resultados geralmente são compartilhados). O que Semler mostrou (e que continua sendo verdadeiro) é que enquanto pessoas reunidas sob um mesmo propósito estiverem jogando umas contra as outra não vai funcionar. Confiança e parceria com quem tá do mesmo lado (se é que existe lado) é fundamental, e é preciso encontrar um jeito de considerar a todos envolvidos nas decisões que são tomadas, pois todos tem visões importantes e todas elas contam.
Complexo, mas um assunto muito interessante para ser explorado pelos líderes em geral, como forma de obter melhores resultados. Na verdade, recordar esse assunto me fez ver muitas semelhanças entre as várias áreas da nossa vida e acho que esse conceito pode até ser bastante ampliado.
Mas, até aqui, com essa lembrança cheguei às seguintes conclusões:
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