Reconheça-se!

Recentemente passei por uma cirurgia na perna, por ter quebrado o principal osso dela, o fêmur. Quando saí da cirurgia, estava bem preocupada pela gravidade do problema e o médico quis me tranquilizar dizendo: "não se preocupe, você poderá andar e até correr novamente". Então eu disse: "tá, mas e a posição de lótus, vou ainda poder fazer?"

Andar é, lógico, fundamental! Correr também pode ser bom, claro! Mas me colocar na postura meditativa sem sentir dor é algo que realmente anseio voltar a fazer. É o meu momento de conexão com o Divino e com o meu eu mais profundo, o meu Eu Sou, que me nutre e direciona na caminhada.

Talvez o médico não tenha entendido muito bem a minha preocupação, normal. Às vezes o que é importante para alguém pode não significar nada para outras pessoas, e isso também é normal. A verdade, fora de alguns preceitos básicos, é muito relativa, e é para isso existe coisas como respeito e empatia. Respeito para deixar o outro decidir o que é importante na própria caminhada e empatia para compreender seu ponto de vista, ainda que não seja o nosso. 

Mas, antes de ter respeito e empatia pelos outros, é preciso ter respeito e empatia por nós mesmos, para não tomar por importante em nossa vida o que, no frigir dos ovos, pode nem fazer a menor diferença, e para não forçar o encaixe em condições nas quais, muitas vezes, na verdade não nos encaixamos. 

Cada um sabe onde lhe aperta o calo e vive de acordo com os próprios anseios, não é o caso de julgar, mas algumas realidades simplesmente não nos comportam e se, para caber nelas, precisamos nos diminuir, é preciso reavaliar qual o sentimento que nos move até lá. 

Não é uma questão de exigir ou obrigar ninguém a nos valorizar, algo que só cabe é à gente mesmo fazer, mas o que não podemos nem devemos é negar a nossa trajetória, com nossos esforços, aprendizados e conquistas que, esses sim, nos definem. 

Se nos colocamos onde eles são compreendidos e acolhidos por aqueles com quem partilhamos a vida, temos a oportunidade talvez de desenvolvê-los ainda mais, crescendo mutuamente como grupo, mas, se não, e nos submetemos a permanecer onde eles são desvalorizados ou negados, corremos o risco de retroceder na caminhada, abrindo mão do que somos para agradar àqueles que, certamente, após cedermos aos seus caprichos, irão apenas confirmar que somos o que, na verdade, nunca fomos: invisíveis e insignificantes. 

Mais fácil para quem não se sente capaz de alcançar o outro é puxá-lo pra baixo, até aí nenhuma novidade. Portanto, cabe a quem sabe quem é escolher se prefere ser aceito ou se aceitar, na completude do que se tornou na vida, com as falhas que cometeu e comete como todo ser humano, sim, mas também com as vitórias que alcançou. 

De minha parte, as minhas vitórias eu sei muito bem quais são, o que significam e o que me custaram, e não quero, nem vou, à custa de nada nem ninguém, diminuí-las, desvalorizá-las e muito menos negá-las. 

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