Família, família... 🎵

Eu sempre senti muita angústia com a dor do próximo e sempre me doei além do limite para ajudar aos outros, especialmente a minha família. Sentia mesmo que era uma espécie de missão espiritual. Houve uma época em que eu queria ser tipo a “salvadora da pátria”: me achava responsável por curar tudo e todos, e queria obrigar as outras pessoas a fazerem o que eu achava que seria bom para elas fazerem para se curarem. Claro que não funcionou! Quem tinha que se perder, se perdeu. Quem não havia ainda chegado na hora de se encontrar, não se encontrou. O que eu ganhei com isso foi só mesmo o rancor de uns, e o afastamento de outros, chegando a parecer que só havia mal no bem que eu pensava estar fazendo. Em algum momento me senti bastante fracassada, no limite de quem ver ir embora toda esperança de transformação que ainda parecia existir, o que foi um processo com muitas fases e muitas dores, mas que acabou sendo bom para eu conseguir olhar para dentro de mim mesma e movimentar minha vida em relação às minhas próprias necessidades. Nesse processo eu evoluí, me olhei, me melhorei um bocadinho mais, e aprendi a duvidar mais ainda de mim mesma quando o assunto é o bem realmente  comum. Mas, com o passar do tempo, eu também pude ver que, nessa história toda, o bem que eu achava perdido também existiu, e que os enganos foram mais em relação aos veículos e à velocidade do que à estrada. Sementes foram plantadas, melhoras aconteceram e a trajetória foi (mesmo que dolorosamente) mudada em algum grau. Ninguém sabe se haveria outro lugar para chegarmos enquanto família que resultasse em luz no fim do túnel melhor do que a presente sem essas minhas “interferências” (não dá pra reescrever a história), mas alguns exemplos nos fazem pensar que, infelizmente e mesmo que não saibamos o que ainda pode vir, poderia ter sido pior até aqui.
Cabe destacar que não estou falando isso pra aconselhar ninguém a ser curador e muito menos salvador da pátria! Hoje compreendo muito melhor o ensinamento espiritual contido no livre arbítrio...
Mas também entendo melhor o provérbio que diz que Deus “escreve certo por linhas tortas” e compreendo que ele se aplicou muito bem ao caso da minha família. Nada do que vivemos foi em vão — todos aprendemos! E melhoramos! Cada um com suas próprias interferências e suas próprias visões de mundo melhorou do seu tanto e dentro da sua capacidade, na sua própria trajetória.
Mas, não me esquecendo da lição aprendida, posso falar por mim e do que eu aprendi com minhas dores e fracassos, que foi a humildade realmente na prática, e com ela tantas outras coisas: a falar menos; a respeitar as escolhas de cada um que, boas ou ruins, não cabem a mim transformar; a pedir perdão quantas vezes foi necessário, até chegar o tempo do perdão florescer no coração de quem eu machuquei. Aprendi também a me perdoar, tanto pelos machucados alheios quanto pelos meus próprios, especialmente pelo tempo tão valioso que deixei de viver a minha própria vida para viver a de outros, como também a me considerar antes de querer ajudar outrem (para não assumir pra mim encargos que não são meus e atrair cobranças que também não são minhas). 
Apesar de tudo, vale reforçar o que eu já disse sobre veículo, velocidade e estrada e que penso que serve para todos que sentem esse chamado da missão e do serviço, seja com a família ou na sociedade: não é porque cometemos erros no cumprimento da nossa missão que ela não seja verdadeira, só não erra quem nada faz, e um pouco de bem pode ser melhor que bem nenhum (para quem sabe direcioná-lo e não se furta em assumir as próprias responsabilidades no seu processo de cura). Acredito que viver em família é realmente a nossa missão maior neste plano, e que, mesmo que cada um evolua só o tanto que dá conta, sempre há evolução quando nos permitimos aprender, voltar atrás, e transcender sobre o que não funciona. A dor e o fracasso quando vêm são para ensinar, e eu sigo aprendendo, já que, ao contrário do que eu pensava antes, hoje sei que tenho muito mais a aprender com os meus relacionamentos, sejam eles familiares ou não.

Sigamos na estrada da vida, cada um com sua missão e trajetória, mas sempre construindo menos muros e mais pontes!


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